Perturbações do comportamento alimentar: Qual o papel do nutricionista?
As perturbações do comportamento alimentar (PCA), nas quais se incluem, por exemplo, a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar, podem definir-se como perturbações do foro mental que resultam em comportamentos alimentares anormais, que afetam negativamente a saúde, a nível mental e/ou físico.
Os últimos dados, referentes ao ano de 2019, indicam que as PCA afetam cerca de 55 milhões de pessoas, a nível mundial, a maioria com idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos.
Tratando-se de uma perturbação mental, a intervenção de profissionais do ramo, como psiquiatras e psicólogos, é essencial. No entanto, a evidência científica enfatiza a importância de, a par do acompanhamento psicológico, existir acompanhamento por parte de um nutricionista, que possui competências para realizar aconselhamento nutricional, que complementa o restante acompanhamento e contribui para o sucesso do tratamento, tanto a curto como a longo prazo.
De que formas é que o nutricionista pode ajudar nestes casos?
- Avaliar o estado nutricional e traçar uma estratégia alimentar individualizada
A adoção de estratégias alimentares flexíveis e realistas, adaptadas a cada pessoa e que tenham em conta as suas preferências, contexto e evolução da doença, é essencial para o sucesso da intervenção.
As alterações orientadas pelo nutricionista, após uma avaliação cuidada do estado nutricional, permitirão a recuperação de hábitos alimentares saudáveis, que terão um impacto positivo na saúde e composição corporal da pessoa.
- Avaliar a necessidade de suplementação
Numa fase inicial, pode ser difícil atingir todas as necessidades nutricionais através da alimentação. Além disso, em casos de restrição alimentar prolongada, poderão existir défices nutricionais que precisam de ser corrigidos. Neste sentido, é importante avaliar a necessidade de suplementação, consoante cada caso concreto.
- Transmitir conhecimento sobre os alimentos e desconstruir crenças
Um diagnóstico de PCA pressupõe, geralmente, várias crenças e pensamentos negativos em relação a determinados alimentos, bem como sentimentos de vergonha e culpa associados ao seu consumo. O nutricionista pode ajudar, pouco a pouco, a desconstruí-los, explicando a importância e função de cada nutriente e distanciando-se da visão de que a comida é uma inimiga e de que há alimentos maus, para dar lugar a uma visão que olha para a comida como uma fonte de energia, saúde e prazer, onde não se dividem os alimentos entre “bons” e “maus” e todos os alimentos são importantes e válidos, na frequência adequada e sem sentimentos negativos associados.
O acompanhamento também permitirá que a pessoa se sinta cada vez mais confortável em atividades que envolvam comida, como fazer uma refeição num restaurante, cozinhar ou ir ao supermercado.
- Ajudar a reconhecer sinais de fome e saciedade
É muito provável que uma pessoa com uma PCA tenha dificuldade em reconhecer os seus sinais de fome e saciedade, uma vez que a doença faz com que passe muito tempo a contrariá-los. Ter fome a toda a hora ou, pelo contrário, não ter fome de todo, comer para lá do seu limite de saciedade, ficando a sentir-se mal, ou comer pouco e ficar com fome rapidamente são situações comuns.
Através de explicações e exercícios, o nutricionista pode contribuir para reestabelecer estes sinais, permitindo que a pessoa ouça o que o corpo lhe pede e responda a esse pedido com naturalidade.
As perturbações do comportamento alimentar são um assunto sério, com grandes implicações para a saúde dos envolvidos, tanto da própria pessoa como das que a rodeiam. Ter o apoio de uma equipa multidisciplinar, da qual faça parte um nutricionista, é essencial para o sucesso da intervenção.