De acordo com um consenso internacional sobre a concussão relacionada com o desporto em 2018, (SRC, Sport-Related Concussion) esta corresponde a uma lesão cerebral traumática, induzida por forças biomecânicas, com características comuns na sua definição clínica
A SRC pode ser causada por lesão direta em qualquer parte do corpo, transmitindo uma força impulsiva à cabeça.
Em regra, resulta num início rápido de défices na função neurológica, com curta duração e resolução espontânea. No entanto, em alguns casos, os sinais e sintomas podem evoluir ao longo de minutos ou horas.
A SRC pode resultar em alterações neuropatológicas, mas o quadro clínico agudo de sinais e sintomas refletem amplamente um distúrbio funcional ao invés de uma lesão estrutural e, como tal, nenhuma anomalia é observada em estudos de neuroimagem estrutural.
Resulta numa série de sinais e sintomas clínicos, que podem ou não envolver perda de consciência.
A Concussão e risco de demência
Os primeiros estudos na área das concussões, permitiram identificar alterações neuropatológicas em jogadores de futebol americano e de boxe com sinais clínicos anómalos no exame neurológico, atribuindo-lhe a denominação de punch drunk syndrome. Mais tarde, usou-se o termo demência pugilística para descrever a doença caracterizada por disfunção cognitiva em pugilistas da marinha americana que sofriam de demência e desorientação.
Uma investigação mais recente de que teve como base ex-jogadores de futebol americano da National Footbal League(NFL), permitiu identificar que os jogadores reformados evidenciavam algum tipo de défice cognitivo e/ou alterações estruturais e no metabolismo cerebral, fora dos parâmetros normais para o seu grupo etário. A este achado clínico, Omalu et al. (2005) classificaram a patologia de encefalopatia traumática crónica (ETC). Os casos de autópsia dos ex-jogadores profissionais de futebol americano, revelaram diversas formas de neuropatologia.
No Futebol
O primeiro caso de ETC em jogadores de futebol foi confirmado em 2014 onde se identificou a presença de alterações coincidentes com ETC, e um estádio moderado de Doença de Alzheimer num futebolista reformado da seleção brasileira. Em 2017, no Reino Unido, realizou-se um estudo longitudinal com 12 ex-jogadores de futebol com sintomas de demência e que foram acompanhados até à morte. Em seis ex-jogadores que realizaram um exame neurológico antes de falecer, concluíram que quatro tinham ETC, em associação com outras neuropatologias.
As estratégias de prevenção das concussões podem reduzir a sua incidência e gravidade em muitos desportos(McCrory et al., 2013). No entanto, futebol é conhecido como o desporto de participação popular envolvendo mais impactos intencionais com a cabeça. Ainda, uma revisão de Harmon et al. (2013), no qual analisa seis estudos sobre a exposição de atletas a concussões, conclui que a maioria das concussões no desporto ocorrem principalmente no futebol americano, rugby, futebol (soccer) e wrestling. Contudo, a incidência de concussões poderá ser mais elevada, uma vez que muitos atletas não reconhecem e reportam as concussões ocorridas. Os jogadores de futebol profissional suportam milhares de impactos na cabeça no final de uma carreira profissional.
Um estudo neuroimagiológico realizado ao longo de uma temporada em jogadores de futebol maiores de 18 anos, demonstraram alterações microestruturais da substância branca e défices cognitivos associados (Lipton et al., 2013). Por outro lado, jogadores ex-profissionais de futebol com idades entre os 40 e os 65 anos, demonstraram evidências de atrofia cortical e compromisso cognitivo associado (Koerte et al., 2015). Neste contexto, apesar das evidências crescentes sobre os riscos dos efeitos cumulativos de impactos na cabeça em torno do cabeceamento da bola, carecem dados de investigação que demonstrem as consequências diretas na função cerebral (Giza et al., 2013; Goodall et al., 2014; Di Virgilio et al., 2016). Um estudo de McKee et al. (2014) corrobora a possibilidade dos impactos da bola de futebol na cabeça, poderem estar associados ao aumento do risco de doenças neurodegenerativas.
No que concerne aos efeitos a longo prazo, foi identificada uma forma de demência conhecida como encefalopatia traumática crónica em atletas de diversos desportos de contacto.
A Avaliação Neuropsicológica nos Desportistas
Desportistas com risco de concussão dos vários desportos, Rugby, Futebol, Basquete, boxe entre outros desportos de contacto, deverão ser supervisionados de forma regular pelo médico e neuropsicólogo com o objetivo de gerir possíveis alterações da situação clínica. Para tal são utilizados testes neuropsicológicos que fornecem informações únicas e essenciais na avaliação das concussões desportivas, contribuindo não somente para o diagnóstico das sequelas neuropsicológicas, mas também para a sua monitorização ao longo do tempo.