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O papel da neuropsicologia no diagnóstico da doença de Alzheimer

Tenho um profundo interesse na área das demências, não apenas pelo conhecimento sobre o funcionamento do cérebro que as avaliações neuropsicológicas proporcionam no contexto de um possível diagnóstico, mas também pela importância de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e cuidadores, permitindo que enfrentem a doença da forma menos conturbada possível.

Nos doentes de Alzheimer que convivem com a patologia ao longo de vários anos, observa-se um padrão de atrofia cerebral característico, sobretudo na região do hipocampo e na região temporal medial – áreas particularmente afetadas nas fases iniciais da doença. Esta degeneração pode ser evidenciada através de exames de neuroimagem.

Mas como podemos distinguir a doença de Alzheimer de outras demências através da avaliação neuropsicológica?

Ao contrário, por exemplo, da doença de Parkinson, em que a degeneração neuronal tem início em estruturas associadas ao controlo motor, na doença de Alzheimer o processo patológico manifesta-se primordialmente em áreas responsáveis pela memória. É assim prementa que, quando exista esta suspeita, a avaliação comece por se focar na avaliação dos vários tipos de memória.

Uma das principais características cognitivas desta doença é o défice de memória, em particular no que respeita à consolidação e recordação de informação. Dado que a memória não chega a ser devidamente consolidada, o doente não consegue recuperar a informação, mesmo quando lhe são fornecidas pistas. Este fenómeno explica um dos sintomas mais frequentes na doença de Alzheimer: o rápido esquecimento de novas informações.

Outro aspeto distintivo da doença de Alzheimer prende-se com as alterações na fluência verbal. Nestes pacientes, observa-se um comprometimento da fluência verbal semântica (por exemplo, ao pedir que nomeiem o maior número possível de animais num minuto), enquanto a fluência fonémica (listagem de palavras iniciadas por uma determinada letra) tende a permanecer relativamente preservada.

Nos estágios mais avançados da doença, verifica-se uma deterioração das habilidades de navegação, que são essenciais para a realização de atividades diárias em ambientes externos. Como consequência, os doentes podem perder-se em trajetos familiares, como numa ida às compras ou a um café habitual. Este tipo de memória, denominada memória topográfica, está intimamente associada ao hipocampo e apresenta um elevado potencial como marcador cognitivo na deteção precoce da doença de Alzheimer.

À medida que a patologia progride, surge um défice cognitivo global, frequentemente acompanhado por sintomas como agitação, confusão, apatia e distúrbios do sono. Em fases mais avançadas, podem também manifestar-se alterações motoras, delírios e alucinações – sintomas particularmente relevantes, uma vez que podem ser indicativos de outras formas de demência (e.g. demência com corpos de lewy ou Doença de Parkinson).

Por esta razão, o diagnóstico diferencial é essencial. Neste contexto, a avaliação neuropsicológica, aliada aos exames de neuroimagem, desempenha um papel fundamental na formulação de diagnósticos precisos, permitindo a implementação de planos de reabilitação adequados às necessidades específicas de cada paciente.

Dra. Marta Vieira

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